A indústria automotiva sempre foi marcada por sua capacidade de inovar e se adaptar às demandas sociais, econômicas e ambientais. No Brasil, a Stellantis dá um passo relevante ao inaugurar em Osasco (SP) o Centro de Desmontagem Veicular Circular AutoPeças, iniciativa pioneira que busca consolidar práticas de Economia Circular. O projeto propõe não apenas a reutilização de peças e materiais, mas também a criação de um modelo industrial sustentável e economicamente viável, respondendo a um desafio que há anos compromete a cadeia automotiva nacional: a destinação correta dos veículos fora de uso.
Um dos principais méritos da Desmontadora é o impacto ambiental positivo. Hoje, menos de 2% dos veículos fora de circulação no Brasil têm destinação adequada, contra índices superiores a 90% em países como Japão e Alemanha. Com a nova operação, a Stellantis projeta evitar a emissão de até 30 mil toneladas de CO₂ por ano, além de garantir que 100% dos materiais sejam reaproveitados ou reciclados. Assim, a empresa responde a pressões crescentes de governos, consumidores e investidores por soluções que conciliem mobilidade e preservação ambiental.
A proposta também representa uma aplicação concreta da lógica dos “4R”: Reuso, Reparo, Remanufatura e Reciclagem. Componentes em bom estado retornam ao mercado com preços até 50% menores do que peças novas, democratizando o acesso a reparos automotivos de qualidade e reduzindo custos para consumidores e oficinas. Essa abordagem fortalece a ideia de que resíduos podem ser transformados em insumos de valor, criando um ciclo virtuoso que prolonga a vida útil dos produtos e diminui a dependência da produção de novos materiais.
Diferentemente dos desmanches informais, a Desmontadora opera com rastreabilidade certificada pelo Detran-SP, utilizando QR Codes que identificam a origem e condição de cada peça. Além disso, itens de segurança como airbags e sistemas de freio são automaticamente destinados à reciclagem, o que eleva a confiabilidade e a segurança do processo. A Stellantis, portanto, não apenas industrializa o desmonte, mas estabelece novos padrões de qualidade e transparência, combatendo o mercado ilegal de autopeças e oferecendo garantias de até um ano em componentes remanufaturados.
Com investimento inicial de R$ 13 milhões e previsão de 150 empregos diretos, a iniciativa gera impacto positivo também no campo socioeconômico. O Brasil movimenta cerca de R$ 2 bilhões anuais em peças recicladas, mas ainda sem organização plena do setor. Ao assumir a liderança, a Stellantis ocupa um espaço estratégico, estrutura um mercado carente de formalização e cria condições para ampliar sua participação na cadeia de valor automotiva, fortalecendo a competitividade da indústria nacional.
Por fim, a Desmontadora integra-se à estratégia global da Stellantis e da divisão SUSTAINera, reforçando a imagem da companhia como referência em inovação sustentável. A unidade de Osasco soma-se a outros projetos no Brasil, como o Centro de Recondicionamento de Veículos em Betim (MG), consolidando um ecossistema circular. Essa abordagem fortalece o posicionamento da Stellantis como empresa preparada para os desafios da transição energética e para o cumprimento de metas de neutralidade de carbono, cada vez mais exigidas por investidores internacionais.
Conclusão
A criação da Desmontadora pela Stellantis representa muito mais do que um novo modelo de negócios: é um marco para a industrialização da Economia Circular no Brasil. Ao unir sustentabilidade, redução de custos, inovação, impacto social e alinhamento estratégico global, a empresa demonstra que competitividade e responsabilidade ambiental podem caminhar juntas. Se consolidada, a iniciativa pode servir de referência para outras montadoras e setores industriais, transformando um passivo ambiental em fonte de valor e reposicionando o Brasil na rota das práticas sustentáveis mais avançadas do mundo.